Acervo pessoal de Francy Baniwa
A Escola Viva Baniwa chegou com a exposição Viva Viva Escola Viva e, a partir da celebração e encontro que fizemos em dezembro de 2023, pudemos juntos começar uma nova caminhada de fortalecimento e ativação dos saberes e fazeres.
O coletivo Baniwa está realizando muitas aulas sobre roças, cestarias de arumã, cestarias com cipó-titica e cipó imbé, desenhos, cerâmica, benzimentos, cantos, danças e literatura indígena. Um fortalecimento muito profundo está desabrochando na comunidade Assunção do Içana, localizada na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira (AM).
Acervo pessoal de Francy Baniwa
Francy e seu pai Francisco Baniwa são os coordenadores desse sonho e dessas ações ativadas em seu território. Francy é uma conhecedora de roça, do rio e da floresta, também é antropóloga e vem, através dos diálogos acadêmicos, trazendo a força e a potência da filosofia de seu povo ao mundo.
Ela nos conta que o anúncio em sua comunidade do apoio para incentivo e fortalecimento de uma Escola Viva chegou com grande festejo e entusiasmo por todos – crianças, jovens e anciãos.
“Os sábios falaram sobre o momento. Todos ficaram emocionados e lembraram em muitas palavras que nós somos Escola Viva. Nosso território, nossas línguas, os cantos, lugares sagrados, as roças, terras firmes, capoeiras, igapós, as comunidades, tudo é Escola Viva, pois somos conhecedores, somos a memória viva. Desde o acordar até o final do dia, na hora de descansar, realizamos muitas coisas, e é por isso que somos a própria Escola Viva. O saber das técnicas dos trançados pelas pontas dos dedos é a ciência mais linda que existe.”
O sonho da Escola Viva Baniwa começa a desabrochar com o lançamento do livro Umbigo do Mundo – Mitologia, Ritual e Memória Baniwa Waliperedakeenai, publicado pela editora Dantes. A partir do lançamento, durante a Vigília da Oralidade no Museu Nacional, um novo caminho foi se abrindo, como Francy mesmo fala:
“Chego nessa fase de trazer as palavras deles para vocês conhecerem, entenderem nosso mundo, como somos, e o porquê das danças, o porquê das curas, o porquê do benzimento, o porquê das aves serem como são, o porquê do ser humano ser assim.”
E nesse diálogo com o pai, junto com as pinturas de seu irmão Frank, ela promove um acontecimento literário e antropológico que merece ser celebrado, como narra Idjahure Kadiwel na apresentação do livro.
Mês a mês, Francy vai nos relatando o que vem sendo feito em sua comunidade, mesmo que ela esteja ativando muitos caminhos também na cidade. Ela está estudando e articulando muitos percursos seja na cátedra da USP, seja com as cineastas mulheres indígenas, seja nos seus estudos de doutorado. Mesmo assim, ela sempre segue em comunicação com as equipes que atuam diretamente na Escola Viva. O seu principal foco de inspiração são as crianças e jovens – ela se preocupa em ativar as memórias mais profundas para que eles sigam trilhando os rastros dos seus sabedores.
Acervo pessoal de Francy Baniwa
“Ser criança na comunidade, na aldeia, é diferente. A nossa alegria maior é quando chegamos na roça e nos deparamos com frutas diversas. Essa é a nossa maior riqueza. O sorriso vai longe! Que felicidade poder chegar e pegar uma melancia e comer no meio da roça, enquanto sua avó, tia e mãe cuidam da roça, capinando e cuidando de outras frutas e manivas.
A roça é o lugar que me traz paz, felicidade e segurança.
Ser dona de roça é uma profissão linda cheia de garra e determinação.
Ser dona de roça é ser trabalhadora com muito suor, embaixo da chuva e do Sol.
Ser dona de roça é cuidar da roça, capinar, arrancar mandioca, carregar nas costas, raspar e ralar. Não é pra qualquer uma.
Eu me orgulho muito de ser dona de roça e pesquisadora, sou doutora da roça e da universidade.
Bem viver
Viver bem
É comer melancia orgânica diretamente da Mãe Terra. Existe amor maior que esse?”
Acervo pessoal de Francy Baniwa