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Cristine Takuá

OPY’I, NOSSA VERDADEIRA ESCOLA – saberes e fazeres vivos

By 25 de novembro de 2024maio 21st, 2025No Comments

Foto: Cristine Takuá

Já faz alguns meses que estamos construindo uma casa de reza no meio da floresta para estudos e retiros de concentração. Todo o processo está sendo feito com materiais retirados da mata, madeira, cipó para amarrar, palha para cobrir e barro para fazer as paredes. Uma casa viva e natural, feita com o saber ancestral que é a arquitetura tradicional Guarani. Além da técnica, tem um saber sensível que segue a orientação do tempo. Existe o tempo certo para tirar as madeiras, para colher a palha e o cipó.

No mundo de hoje, escutar e observar o tempo não é mais um primeiro passo para praticar os conhecimentos, pois a mercadoria é comprada e vende-se tudo o tempo todo. Tudo leva agrotóxicos, inseticidas e tudo passa a ser desconectado desse sentido profundo de saber esperar o tempo.

Por isso, realizar essa construção é uma prática da Escola Viva, da qual participam jovens e até crianças, que ajudam a barrear as paredes. Garantimos e possibilitamos, assim, que esse conhecimento siga vivo dentro de nossas memórias.

 

Fotos: Carlos Papá

Opy’i é a casa de rezas, casa de curas, casa de despertamentos e lugar onde se aprende. É uma grande sala de aula em cada território. Dançamos, descansamos, meditamos e nos transformamos nessa casa sagrada. É um lugar de acolhimento e aconselhamentos.

Cada povo nomeia da sua forma esse espaço sagrado, e todos têm uma relação muito íntima e verdadeira com essa sala de aula. A ideia de escola sempre é de um lugar quadrado, com carteiras, cadeiras e lousa. Na casa de rezas, o essencial é o fogo, grande mestre que auxilia os trabalhos espirituais e aquece as longas noites de estudos.

Saber entrar e sair dessa sala de aula é um ensinamento que se orienta desde bebê. Há uma ética que norteia nossas relações dentro da Opy’i, e cada um, criança, jovem, homem e mulher, tem sua função e sua direção no processo de aprendizagem.

Foto: Carlos Papá

Fotos: Cristine Takuá

 

Diferente dos hospitais 

E postos de saúde 

A Opy’i ou casa de rezas 

Não é só um espaço de cura 

Mas também um centro educacional

A verdadeira escola 

Lá falamos dos sonhos, nos curamos

 e também aprendemos boas e belas

Formas de praticar o Bem Viver 

O Teko Porã 

Como é bom cantar, dançar 

Tocar Takuapu, Maracá

Sentir esse espaço tão especial!

Estar com pessoas queridas 

Que, muitas vezes, mesmo

Em silêncio

Transmitem mais mensagens do que se estivessem falando

Mas infelizmente hoje, muitos a procuram somente  

Quando os males do corpo ou da alma os afetam 

Mas assim não deveria ser!

Nossas medicinas não vêm embaladas em plásticos como as das farmácias, 

Elas florescem em meio às cachoeiras, igarapés, montanhas sagradas…

Os curandeiros e curandeiras 

Líderes espirituais

Estão só observando o descompassado 

Avanço de evangélicos invadindo

Os Tekoa sagrados 

O aumento de influência 

De uso de antibióticos e analgésicos

Incentivos de partos em hospitais 

É hora de despertar!

Valorizar os saberes e fazeres tradicionais que alegram nossa alma

Precisamos urgentemente 

Honrar as tradições de cura 

E espiritualidade das culturas ancestrais 

E assim acalmar 

Os espíritos da floresta

Que estão bravos 

Cansados de tanta contradição

De nós seres ditos pensantes!

Que essa reflexão voe longe

Como se levanta a fumacinha que sai de nossos cachimbos e toque 

Nos corações dos seres sensíveis!

Respeito às medicinas que brotam da floresta !

Respeito aos rezadores e às rezadoras 

Que equilibram a vida aqui na Terra

Há tantos séculos!

Aguyjevete!

Foto: Cristine Takuá

Foto: Carlos Papá

 

A construção da Opy’i no território da Aldeia Rio Silveiras tem apoio do Goethe-Institut. 

No início de dezembro, acontecerá uma residência, liderada por Cristine Takuá e Carlos Papá, com o encontro de lideranças indígenas de diversos territórios ao redor da construção da casa de rezas na Aldeia Rio Silveiras. Além da construção conjunta, haverá práticas de laboratório de plantas e participação nas ações da Escola Viva Guarani.

Juntando forças e desejos, Selvagem e Goethe-Institut colaboram na realização e documentação da residência na Escola Viva Guarani no âmbito do projeto Cosmopercepções da Floresta.