Foto: Cristine Takuá
Já faz alguns meses que estamos construindo uma casa de reza no meio da floresta para estudos e retiros de concentração. Todo o processo está sendo feito com materiais retirados da mata, madeira, cipó para amarrar, palha para cobrir e barro para fazer as paredes. Uma casa viva e natural, feita com o saber ancestral que é a arquitetura tradicional Guarani. Além da técnica, tem um saber sensível que segue a orientação do tempo. Existe o tempo certo para tirar as madeiras, para colher a palha e o cipó.
No mundo de hoje, escutar e observar o tempo não é mais um primeiro passo para praticar os conhecimentos, pois a mercadoria é comprada e vende-se tudo o tempo todo. Tudo leva agrotóxicos, inseticidas e tudo passa a ser desconectado desse sentido profundo de saber esperar o tempo.
Por isso, realizar essa construção é uma prática da Escola Viva, da qual participam jovens e até crianças, que ajudam a barrear as paredes. Garantimos e possibilitamos, assim, que esse conhecimento siga vivo dentro de nossas memórias.
Fotos: Carlos Papá
Opy’i é a casa de rezas, casa de curas, casa de despertamentos e lugar onde se aprende. É uma grande sala de aula em cada território. Dançamos, descansamos, meditamos e nos transformamos nessa casa sagrada. É um lugar de acolhimento e aconselhamentos.
Cada povo nomeia da sua forma esse espaço sagrado, e todos têm uma relação muito íntima e verdadeira com essa sala de aula. A ideia de escola sempre é de um lugar quadrado, com carteiras, cadeiras e lousa. Na casa de rezas, o essencial é o fogo, grande mestre que auxilia os trabalhos espirituais e aquece as longas noites de estudos.
Saber entrar e sair dessa sala de aula é um ensinamento que se orienta desde bebê. Há uma ética que norteia nossas relações dentro da Opy’i, e cada um, criança, jovem, homem e mulher, tem sua função e sua direção no processo de aprendizagem.
Foto: Carlos Papá
Fotos: Cristine Takuá
Diferente dos hospitais
E postos de saúde
A Opy’i ou casa de rezas
Não é só um espaço de cura
Mas também um centro educacional
A verdadeira escola
Lá falamos dos sonhos, nos curamos
e também aprendemos boas e belas
Formas de praticar o Bem Viver
O Teko Porã
Como é bom cantar, dançar
Tocar Takuapu, Maracá
Sentir esse espaço tão especial!
Estar com pessoas queridas
Que, muitas vezes, mesmo
Em silêncio
Transmitem mais mensagens do que se estivessem falando
Mas infelizmente hoje, muitos a procuram somente
Quando os males do corpo ou da alma os afetam
Mas assim não deveria ser!
Nossas medicinas não vêm embaladas em plásticos como as das farmácias,
Elas florescem em meio às cachoeiras, igarapés, montanhas sagradas…
Os curandeiros e curandeiras
Líderes espirituais
Estão só observando o descompassado
Avanço de evangélicos invadindo
Os Tekoa sagrados
O aumento de influência
De uso de antibióticos e analgésicos
Incentivos de partos em hospitais
É hora de despertar!
Valorizar os saberes e fazeres tradicionais que alegram nossa alma
Precisamos urgentemente
Honrar as tradições de cura
E espiritualidade das culturas ancestrais
E assim acalmar
Os espíritos da floresta
Que estão bravos
Cansados de tanta contradição
De nós seres ditos pensantes!
Que essa reflexão voe longe
Como se levanta a fumacinha que sai de nossos cachimbos e toque
Nos corações dos seres sensíveis!
Respeito às medicinas que brotam da floresta !
Respeito aos rezadores e às rezadoras
Que equilibram a vida aqui na Terra
Há tantos séculos!
Aguyjevete!
Foto: Cristine Takuá
Foto: Carlos Papá
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A construção da Opy’i no território da Aldeia Rio Silveiras tem apoio do Goethe-Institut.
No início de dezembro, acontecerá uma residência, liderada por Cristine Takuá e Carlos Papá, com o encontro de lideranças indígenas de diversos territórios ao redor da construção da casa de rezas na Aldeia Rio Silveiras. Além da construção conjunta, haverá práticas de laboratório de plantas e participação nas ações da Escola Viva Guarani.
Juntando forças e desejos, Selvagem e Goethe-Institut colaboram na realização e documentação da residência na Escola Viva Guarani no âmbito do projeto Cosmopercepções da Floresta.