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Diário Cristine Takuá

NO TEMPO DAS CHUVAS

By 25 de abril de 2024novembro 27th, 2025No Comments
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NO TEMPO DAS CHUVAS
Cristine Takuá

25 de abril de 2024

 

Foto: Cris Takuá

O cheiro dos pingos na terra batida 

Anunciam a chegada das chuvas

Trazendo suaves brisas

Lembranças da infância 

De histórias vividas

O tempo, marcador das horas 

Dos momentos gravados

Sentidos na memória 

Me trazem sensações 

De infinita alegria 

Oh Terra!

Mãe dos seres animais e vegetais 

Oh vento!

Suspiro infinito do ventre do universo

Oh água !

Circula nas veias que percorrem 

os caminhos na imensidão do espaço

Oh fogo!

Sagrado mestre que a tudo consome, 

tudo transforma e aquece 

Salve as direções que nos guiam 

Aos olhos que nos orientam

E aos pés que nos sustentam

Nessa caminhada rumo ao infinito.

 

Foto: Cris Takuá

 

Cada dia que passa me animo mais a convidar os humanos a se tornarem selvagens, sentirem a delicada beleza de ser e estar em seu território em boa e bela forma. Amanhecer ouvindo o canto dos pássaros e anoitecer à beira do foguinho, contando histórias do dia que passou. A simplicidade que rodeia a vida de quem se permite ser parte da natureza é de uma grandeza muito encantadora.

O mundo acelerado do capitalismo, que transforma tudo em mercadoria, afastou a maioria dos humanos de sua essência e de sua alegria. Enquanto muitos se entorpecem de remédios para conseguir dormir, nas Tekoá, os Guarani, os Maxakali, os Ashaninka, os Huni Kuï e muitos outros parentes cantam para celebrar a noite.

Desde criança me encanto com o cantarolar das chuvas que caem, limpando a terra e acalmando os pensamentos. No tempo das chuvas, tudo se torna alegria: o cházinho de erva cidreira, o bolinho assado de milho, as brincadeiras sem fim….

Como é bom ser selvagem!

Mas a sociedade capitalista insiste em querer nos colocar etiquetas, regrar nossas mentes para esquecermos que não tem dinheiro que paga a simplicidade. Por isso, sigo na minha rebeldia de acreditar que fazer comida no fogo da lenha, usar meu cachimbo para rezar e preparar remedinhos do mato para as crianças é acreditar num futuro mais feliz!

Há tempos aprendi a desvirar o bucho de criança e isso é tão mágico! As faculdades de medicina não ensinam isso aos seus alunos, que buscam praticar a cura como profissão. Curar susto, lombriga desconfiada e tantos males que afetam as criancinhas é de uma beleza selvagem!

Assim, sigo dialogando com as chuvas, aprendendo a escutar os trovões e me direcionar nesse mundo de tantas belezas.

 

Foto: Cris Takuá