BRINCAR ACENDE O SOL
por Veronica Pinheiro
01 de novembro de 2024

Brincar acende o Sol. Essa frase saiu da boca de Carol Delgado no final de uma reunião. Depois de um longo período de instabilidade e insegurança, que deixou crianças e professores entristecidos, voltamos a nos reunir com voluntários e amigos para pensar como poderíamos retomar as atividades na escola. De onde venho, alegria é medicina. Desejamos, naquele momento, voltar à escola para compartilhar ALEGRIAS. Planejamos um mês de atividades com: lançamento de livro; apresentações musicais; construção de canteiro para plantio da horta; oficina para professores e funcionários; passeio; oficina de figurino; fotografia e filmagem; teatro; A FESTA das crianças.
Ao mesmo tempo em que o Ciclo Sol estava sendo compartilhado pelo Selvagem, o Grupo Aprendizagens estava na escola acendendo Sol. E as crianças, assim como o Sol de IORI, desejavam amanhecer novamente. O desespero, porém, antes de nós conseguiu chegar a alguns: uma pequena até agora não retornou da sua tentativa de fugir da dor. Por isso, reafirmo que professores sozinhos não conseguem atender a todas as demandas atribuídas à escola. Educar e escolarizar são processos distintos.
“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Você já ouviu esse provérbio africano?
Nós, seres urbanizados, somos convocados diariamente à desconexão. Na cidade, máquina de moer relações, as pessoas cuidam apenas de suas próprias vidas e de suas coisas, muitas vezes cuidam mais das coisas que da própria vida. A desconexão e o medo tornam a vida na cidade cada vez mais segmentada e adoecida.
Acho curioso que na cidade haja espaços para brincar. Na cidade, tem espaço para tudo. A desconexão cria mercado, as pessoas pagam para rir, se distrair e também para brincar. Quando descobri, em 2022, que o Selvagem ciclo de estudos sobre a vida tinha uma comunidade, logo me inscrevi. E logo também comecei a conhecer essa comunidade de perto. E, por chegar perto, pude me conectar com pessoas, histórias e territórios.
Nesse movimento de conexões, algumas dessas pessoas chegavam com um repertório de vida tão incrível que eu só pensava em convidá-las para brincar. Fui criada brincando de fazer o que via os adultos fazendo brincando. A alegria é uma medicina muito sagrada para comunidades afrodiaspóricas. Quando brincamos, ativamos nossa conexão com tudo o que nos compõe.
Demorei, como sempre, 30 minutos explicando por que seria tão importante que as atividades de outubro vibrassem em gentileza e abundância de alegria. Falei sobre a importância de brincar com as crianças. Recorri à filosofia Bantu para explicar que cada criança é um Sol vivo, e que o livre caminhar na Terra só é possível se todos os sóis estiverem acesos. Carol resume a falação sorrindo: “Brincar acende o Sol”.
Essa frase deixou tudo mais simples. E foi brincando que chegamos até a esta página do diário.
Brincamos de historinha: Com Tania Grillo no lançamento de seu livro Fora onde?


Brincamos de festival de música com John Caldwell e Anselmo Salles.

Brincamos de construir canteiros e plantar horta com Otávio Souza.

Brincamos e passeamos com Rafael Cruz, Tatiana Mello e Wagner Manoel.

Brincamos de ser passarinho e de plantar solto com Taiana Simões.

Brincamos de criar figurinos e personagens com Clarissa Viegas e o ateliê Ohlograma.

Brincamos com Carol Delgado de fazer fotografias e vídeos e
brincamos com Paula Novaes e seus bonecos de fazer teatro.

Brincamos no Pão de Açúcar com o Parque do Bondinho.

E a festa?
Semana que vem acontecerá nossa Festa Solar.