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CASA ESCOLA VIVA
Residência artística indígena

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Outubro de 2025

A residência artística indígena Casa Escola Viva convidou 10 artistas, 2 de cada uma das Escolas Vivas, e seus coordenadores a criarem, refletirem e conversarem, ao longo de 15 dias, sobre seus fazeres artísticos e coletivos no Bloco Escola no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).

Casa Escola Viva foi uma extensão do projeto das Escolas Vivas no intuito de animar artistas a dialogarem com o mundo de fora dos territórios, enquanto desenharam, pintaram, experimentaram, trocaram e aprofundaram conhecimentos de suas culturas. Ao final do processo, entre os dias 23 e 24 de outubro, a residência abriu suas portas para visitação do público.

Casa Escola Viva foi também um desdobramento da exposição Viva Viva Escola Viva, que aconteceu na Casa França-Brasil, entre 2 de dezembro de 2023 e 28 de janeiro de 2024.

Galeria de fotos

Fotos: Caleidoskópica / Elea Mercurio

ESCOLAS VIVAS

Escolas Vivas é o nome do movimento de fortalecimento a projetos indígenas de transmissão de seus saberes tradicionais, articulado e apoiado pela Associação Selvagem. Atualmente, 5 projetos estão envolvidos: 3 na Amazônia (dos povos Huni Kuin, Baniwa e Tukano-Dessano-Tuyuka) e 2 na Mata Atlântica (dos povos Maxakali e Guarani).

O movimento Escolas Vivas é coordenado por Cristine Takuá, do povo Maxakali. Ela vive na Terra Indígena Guarani de Ribeirão Silveira, em São Paulo, há mais de 20 anos. É mãe, educadora, filósofa e parteira.

Saiba mais aqui.

CONHEÇA OS ARTISTAS DA RESIDÊNCIA
MADZEROKAI
Escola Viva Baniwa

Os Baniwa (Medzeniakonai) são habitantes do sistema cultural e multilíngue do Alto Rio Negro, área de aproximadamente 250 mil km2, que abrange o noroeste da Bacia Amazônica. É nesta região que se encontra a Madzerokai, Casa dos Conhecimentos Ancestrais, a Escola Viva Baniwa.

Larissa Baniwa

Meu nome é Larissa Bitencourt Fontes, do povo Medzeniako – que significa “Aos que nascem falando a língua”, meu povo também é conhecido como Baniwa. Nasci na comunidade Assunção do Rio Içana, pertencente à Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira – Amazonas. Sou uma geração que tem uma forte história, venho de uma linhagem muito importante para meu povo Medzeniako. Meus avós são grandes pessoas com muita sabedoria, que me inspiram a seguir passos dos conhecedores. Sou uma jovem de 19 anos, faço parte do grupo de jovens da comunidade, faço parte também de jovens que representam nos eventos institucionais da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN, nas assembleias, seminários, oficinas, com vários temas, como: educação, sustentabilidade, saúde, território e protagonismo de jovens dentro dos territórios.

Participo de conselho escolar, minha avó Bibiana Fontes é parteira e dona de roça, meu avô Francisco é grande mestre Madzero e minha avó Lúcia Bitencourt é uma grande dona de roça. Essas pessoas me inspiram muito a cada dia olhar meu território com outros olhares, valorizar os mais velhos, aprender a ouvi-los mais. Eles são minhas fontes de inspiração, assim, como minha mãe tem sido exemplo de determinação e força. A minha família é a minha base, é a minha universidade indígena na comunidade. Na minha comunidade sou uma liderança jovem, que toca violão e flauta transversal, sou uma sonhadora que faz parte da Escola Viva Madzerokai – Casa dos Conhecimentos Ancestrais, um sonho que é coletivo.

Frank Baniwa

Sou Frank Bitencourt Fontes da etnia Baniwa, de clã Waliperidakenai, nasci no dia 12 de novembro de 1991, na comunidade de Assunção do Içana, filho do senhor Francisco Luis Fontes (Francisco Baniwa) e da dona Lúcia Bitencourt, ambos agricultores e artesãos. Desde criança, sempre gostei de desenhar e pintar. Grande parte do talento que tenho hoje vem dos meus pais. Desde a escola, eu desenhava as pesquisas com os sábios da comunidade sobre lugares sagrados, plantas medicinais, lugares de piracemas de peixes, instrumentos musicais, cantos e roças tradicionais.

Também desenhava e pintava nos eventos religiosos católicos, como a gincana Mariana, que acontece todo ano na comunidade. Uma das pinturas que fiz foi de Nossa Senhora da Amazônia, também desenhei imagem de Nossa Senhora da Natureza, usando criatividade para pensar como seria essa deusa protetora da natureza.

A convite da Francy Baniwa, sou o autor dos desenhos que se encontram no livro Umbigo do Mundo, no total são 75 obras. Também, com tinta aquarela, criei 30 obras para tese de doutorado da Francy sobre as donas de roças, realizando vários trabalhos femininos e também constelações, que são fundamentais no ciclo da nossa vida dentro dos territórios. As 75 aquarelas foram adquiridas pelo Instituto Inhotim.

SHUBU HIWEA
Escola Viva Huni Kuï

A Escola Viva Shubu Hiwea é um sonho do pajé Dua Busë. Ele vive com sua família na aldeia Coração da Floresta, no Alto Rio Jordão. Dua Busë possui profundos saberes da cultura Huni Kuï – de histórias, medicina, música e espiritualidade – e, ao longo dos anos, tem transmitido seus conhecimentos para outros pajés e aprendizes. Em sua aldeia, ele criou um grande jardim, que batizou de Parque União da Medicina, onde são feitos cultivos, estudos e práticas dos saberes da medicina tradicional.

Ayani Huni Kuï

Ayani Huni Kuin (1988, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão – AC) é artista e mãe. Ela trabalha com uma diversidade de linguagens artísticas, como a pintura, o desenho, a tecelagem e a miçanga. Ayani teve seu primeiro contato com esses saberes através de sua mãe, ainda na infância, e hoje também ensina o fazer artístico a seus filhos. Além das obras desenvolvidas em seu território, na Aldeia Coração da Floresta – Escola Viva Huni Kuin, Ayani também faz trabalhos em parceria com artistas de outras comunidades do território do Jordão.

Rua Yube Huni Kuï

Rua Yube Huni Kuin (1976, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão – AC) é artista, pai de 9 filhos e professor na Aldeia Coração da Floresta, no Acre. Como artista, atua através de desenhos, pintura em tela e pintura corporal com jenipapo, além de cantar nas cerimônias tradicionais de seu povo. Na prática como educador, atualmente trabalha com 26 crianças na escola da aldeia, lecionando história, música e cultura tradicional na língua hatxa kuin. Também acompanha e auxilia o pajé Dua Buse, coordenador da Escola Viva Huni Kuin, em suas atividades com plantas medicinais e formação de jovens em seu território.

BAHSERIKOWI
Escola Viva Tukano-Desana-Tuyuka

O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi está na cidade de Manaus e tece relações com diversas instituições, como a Organização Pan-Americana da Saúde, a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). 

Os especialistas kumuã que atendem no Centro são originários dos povos Yepamahsã (Tukano), Utãpirõ-porã (Tuyuka) e Umukori-mahsã (Desana), das comunidades indígenas do Alto Rio Negro.

Thaís Desana

Pesquisadora e artista indígena do povo Desana, de origem da região do Alto Rio Negro – São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas. Fundadora do Coletivo de Indígenas LGBTQIA+ do AM – Miriã Mahsã. Atua na pesquisa protagonizando o debate das expressões de sexualidade e gênero de corpos indígenas, trazendo a arte em desenho, pintura e fotografia como instrumento metodológico para a construção da ideia de corpos dentro do universo cosmológico e afetivo.

Ivan Tukano

A realidade não é única. Para o povo Tukano, a existência não se limita ao mundo visível; há outros mundos que coexistem com o nosso. Minha arte e minha música são o registro direto dessas outras dimensões. Não se trata de uma metáfora, mas de uma representação de um fato. A visão de mundo Tukano é a base para a compreensão e a navegação nessas múltiplas realidades.

Cada obra visual e sonora que eu crio é o resultado de uma observação direta, uma documentação do que existe além do que se percebe à primeira vista. Meu trabalho é um mapa para esses outros mundos, uma forma de tornar tangível a complexidade da realidade.

Nascido em São Gabriel da Cachoeira, hoje sou um dos coordenadores do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi em Manaus, um espaço onde essa mesma visão se manifesta na prática da cura e na conexão com nossa cultura.

MBYA ARANDU PORÃ
Escola Viva Guarani

Na Mbya Arandu Porã, nome da Escola Viva Guarani, os jovens começaram a despertar suas memórias adormecidas. Práticas ancestrais estão em diálogo com técnicas de agrofloresta e cultivo de abelhas. Neste território, onde a língua Guarani Mbya é dominante, crianças e jovens encontram na Escola Viva um lugar para conhecer as histórias de seu povo e praticar sua arte e ciência..

Neuzilia Para

Neuzilia Para é do povo Guarani Mbya, artesã, conhecedora das plantas medicinais e dos saberes da cosmologia de seu povo. Mestre da arte do trançado, faz cestas de palhas e busca, através de sua arte, cuidar de sua família.

Fabiano Verá

Sou Guarani Mbya da aldeia Ribeirão Silveira, nascido em Paraty (RJ) e hoje vivo na aldeia Tenondé Porã, Guarani Mbya (SP). Cresci entre plantações de mandioca, batata-doce e milho. Desde criança, sou artista, pesquisador da medicina natural e dos cantos tradicionais Guarani e de outros povos.

Nas casas de reza, de consagração, no compartilhamento das histórias com os mais velhos, aprendi a temer, a cuidar e a viver no equilíbrio, entendendo que um dia não vai ser igual ao outro. Quando começo a desenhar uma pintura, gosto de refletir sobre as águas, as montanhas, ver as cachoeiras, os pássaros. Através disso imagino e me encanta. E é também por aí que vem a cura de imaginar e sonhar, porque entendo que nós, seres humanos, somos feitos para lutar dia a dia. E foi o artista e escritor Jaider Esbell, que admiro muito, que me falou para seguir trilhando o caminho nas pinturas e arte.

Trabalho principalmente com artesanato, desenhos e pinturas inspirados nas histórias contadas pelos mais velhos. Pesquiso as medicinas naturais e gosto de criar, imaginar, sonhar e aprender a fazer óleos essenciais de plantas. Também gosto de fotografar e filmar as atividades dentro da aldeia.

APNE IXKOT HÂMHIPAK
Escola Viva Maxakali

Os Maxakali são habitantes ancestrais das florestas que cobriam o nordeste de Minas Gerais e extremo sul da Bahia. São, aproximadamente, 3 mil pessoas que falam a língua Maxakali, um dos últimos idiomas nativos da região. A Aldeia Escola Floresta, Escola Viva do povo Maxakali, foi criada a partir da retomada de uma propriedade da União, localizada na zona rural de Teófilo Otoni (MG).

Isabelinha Maxakali

Isabelinha Maxakali (1980, Água Boa, Terra Indígena Maxakali – MG) é artista e mãe de yãmïyxop (povos-espírito da Mata Atlântica). Vive e trabalha na comunidade Aldeia-Escola-Floresta, onde é linha de frente na organização de rituais de cura, colaborando com as anciãs e pajés cotidianamente para o fortalecimento da cultura de seu povo. É mestra-artesã na produção de adornos e artefatos com a fibra de embaúba e também de miçangas. Além de suas atividades artísticas tradicionais, no último período Isabelinha tem ampliado sua produção pesquisando as linguagens do desenho, da pintura, da aquarela e das esculturas têxteis.

Mamei Maxakali

Mamei Maxakali (1980, Água Boa, Terra Indígena Maxakali – MG) é pajé, artista e professor. Vive e trabalha na comunidade Aldeia-Escola-Floresta, onde cuida de um dos kuxex (casa de ritual) e colabora com o projeto de reflorestamento dos territórios Maxakali, o Hãmhi Terra Viva. Mamei destaca-se por sua dedicação à luta pela ampliação das terras de seu povo e pelo fortalecimento dos conhecimentos tradicionais, especialmente os rituais de iniciação dos meninos Maxakali e os rituais de cura realizados com os yãmïyxop (povos-espírito da Mata Atlântica). Recentemente tem ampliado suas práticas artísticas dos cantos e das pinturas corporais, produzindo também telas e desenhos.