NHEMBOJERA MBAVYKY
Cristine Takuá
30 de outubro de 2025

O desabrochar das maneiras de brincar em transbordamentos de criatividades ativadas através das memórias antigas que habitam nas ensenhanças das Escolas Vivas se fez profundamente presente na Casa Escola Viva durante a residência artística que organizamos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Para o povo Guarani, a palavra Mbavyky significa brincadeira, é o modo como expressam o que o mundo ocidental chama de Arte. A possibilidade de transformar palha em cestos, argilas em cachimbos, madeiras em esculturas de bichinhos é algo muito profundo e verdadeiro. A arte desabrocha desse lugar para os Guarani, do ato de brincar e se permitir mergulhar na essência criativa que existe dentro de cada um de nós.

Carlos Papá orientou no início das atividades junto aos artistas Maxakali, Huni Kuin, Baniwa, Tukano, Desana e Guarani Mbya, para que cada um buscasse refletir de onde vem essa arte que estavam fazendo. Como é a expressão ‘arte” na língua de cada um deles? A partir dessa reflexão, pensar que esse encontro, essa ativação Casa Escola Viva não teve como objetivo competir, mas sim compartilhar, vivenciar a concentração e a troca de saberes.
Um pensamento muito falado durante a residência foi sobre a visão mais ampliada do conceito de arte para cada povo, cada cultura, no sentido de entender que arte é fazer roça, fazer parto, é se permitir criar e transformar. A arte brota de uma memória ancestral e as tramas que se desenrolam de um processo criativo de imaginação mostram o potencial que habita no interior de cada artista. Entre sonhos e intuições vão se revelando formas e sinais, que refletem da natureza sua origem de criação, pulsando para a vida o sentido dessas relações.
Pajé Mamei Maxakali, sempre, ao iniciar as atividades, reunia todos em roda para cantar para os yãmiy e juntos pedir proteção e leveza para o dia que começava. Assim foi todo o processo guiado nessa rede de afetos e cuidado. Em alguns momentos Ivan Tukano, coordenador da Escola Viva Bahserikowi, relatou encontros de que participou para falar do Bem Viver, mas toda metodologia das atividades era muito cansativa e contraditória com a proposta do assunto que estavam abordando. Muitas vezes é assim: nos convidam a participar de seminários, congressos, eventos que sugam nossa energia.
As Escolas Vivas seguem pulsando e impulsionando o nosso caminhar de maneira suave e respeitosa, buscando animar os coletivos e trazer seus sonhos para convidar o mundo a se reencantar.
Embora haja muitos desafios, buscamos conservar o equilíbrio entre a beleza e a dureza da vida, escutando com atenção as histórias de criação do mundo.
Viva viva as Escolas Vivas.
Fotos da residência Casa Escola Viva por Caleidoskópica / Elea Mercurio







