PENSAMENTOS DE CRIANÇA
Cristine Takuá
11 de abril de 2024

Fotos: Alba Rodríguez Núñez
Numa manhã de céu azul e montanha iluminada, fiquei a refletir sobre a profundeza dos pensamentos que desabrocham das criancinhas. Tudo está a pensar, observar e imaginar nesse mundo de encantos e belezas.
Kauê Karai Tataendy Mindua, meu filho de 10 anos, é um pensador desde os primeiros passos de sua vida, um grande professor das sutilezas das coisas que nos rodeiam. Cuidador de galinhas e cachorros, tem um galo chamado Pirata, que ele cuida desde que nasceu e que é cego de um olho. Kauê, com muito afeto, fez curativos e hoje Pirata é um galo que comanda o terreiro com seus cantos fortes logo ao amanhecer.
Nessa caminhada junto a esse meu pequeno professor, muitos conhecimentos vou aprendendo com ele. Uma reflexão que ele me trouxe esses dias foi sobre a relação dos humanos grandes com os seres da floresta. Ele me perguntou por que as pessoas crescem e deixam de ser “delicadosos” com os outros bichinhos e plantas. Ele pensa que muitos humanos grandes perderam essa sensibilidade de escutar e conversar com os outros seres e até com os espíritos.

Foto: Alba Rodríguez Núñez
Mergulhado em suas profundas inquietações, desde criança nas caminhadas na mata, traz falas sobre tempos outros onde ele se recorda de situações e momentos da vida que a sua memória ainda alcança.
Curioso perceber a transparência lúcida da dimensão dos pensamentos das crianças, que tecem narrativas imaginárias e se encantam com as mais pequeninas coisas.
Meus dois filhos sempre me acompanharam nas caminhadas da vida, em lutas, trabalhos e articulações. Um dia fui convidada para comentar um filme sobre rezadores, xamãs de vários lugares do mundo, que seguem com seus cantos e rezos segurando os céus e equilibrando a vida no planeta. Kauê, atencioso que sempre foi, ao chegar em casa ficou comentando sobre o que viu e ouviu naquela noite e no dia seguinte pediu pra assistir o filme de novo comigo. Foi um momento forte para nós dois, pois ficamos encantados e ao mesmo tempo profundamente tocados por aquelas realidades tão distantes, mas tão parecidas com as nossas.
Passou um tempo e o vi concentrado com suas canetinhas coloridas desenhando tudo que estava pensando das nossas conversas e daquelas realidades tão profundas.

Desenhos: Kauê
Rezar para chover, rezar para continuar nevando, rezar para seguir os rios e mares com água limpas e peixes para comer, rezar para manter a floresta viva frente a tantas violências, como mineradoras, petrolíferas e um agronegócio avassalador.
Assim seguimos dialogando e sentindo a força que emana nos quatro cantos do mundo desses rezadores e rezadoras, que seguem, cada um da sua forma, resistindo para cuidar da nossa Terra tão machucada.
Que sigamos rezando e aprendendo com a delicadeza das crianças.
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Foto: Alba Rodríguez Núñez

